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OPINIÃO: Hipocrisia ambiental

Finda mais um janeiro marcado pela tragédia. A tragédia ambiental provocada pela Vale do Rio Doce é sem precedentes. O Caso Kiss (RS) e o rompimento da barragem de rejeitos em Brumadinho (MG) são diferentes, porém têm um significativo aspecto em comum: a ausência e a negligência à cultura da segurança. As estratégias empresariais adotadas no Brasil são essencialmente reativas e são implantadas para cumprir o mínimo necessário, às vezes nem isso. Segurança, proteção e prevenção são vistos como custos. Não dão lucros financeiros. Explicando, assim, a adoção de soluções mais baratas, materiais de segunda classe e tecnologias obsoletas.

O gerenciamento de resíduos no Brasil se caracteriza pela acumulação, levando à formação de grandes passivos ambientais. As barragens de rejeitos da mineração são os melhores e os piores exemplos para comprovar os riscos sociais, ambientais e econômicos da acumulação, agravada pela toxicidade e pela concentração de diversos compostos químicos.

Na lógica do lucro a qualquer custo e da ganância, manutenção, precaução e prevenção não têm espaço. Depois de grandes tragédias, o primeiro questionamento é a fragilidade da lei. Em termos de legislação ambiental, temos uma das melhores. O que falta é cumprimento e fiscalização. O desmonte dos setores ambientais no país em todos os níveis, federal, estadual e municipal, é responsável pela fiscalização ineficiente. Sob esta estrutura sucateada abrigam-se empresas e empresários inescrupulosos. O estranho é que os questionamentos só venham depois do "leite derramado". Quando da implantação de algum novo negócio, o que vemos? A sedução dos governantes e de muitos com o crescimento econômico e a geração de empregos. Os alertas de perigo e a exigência de condicionantes para mitigar os riscos são vistos como atitudes xiitas de quem não quer o desenvolvimento. E o pior é que depois da tragédia, em pouco tempo, a comoção, as imagens da destruição, do desespero e da devastação já não doem mais. Nem servem de alertas futuros. Pura hipocrisia ambiental! A dor limita-se aos atingidos. As vítimas são as únicas punidas por um crime que não cometeram. Desamparadas, carregam as marcas de crimes impunes. Os causadores, ironicamente têm recursos judiciais intermináveis para questionar os danos, as multas e inclusive, a culpa. As vítimas são levadas à exaustão vencidas pelo cansaço.

É uma inversão inaceitável, responsável por encobrir crimes e a falta de escrúpulos. A solução inclui a valorização dos órgãos de controle e a implantação de políticas públicas proativas que valorizem a segurança, o meio ambiente e a vida. Rogo que mais esta tragédia anunciada e repetida sirva para que o novo governo morda a língua: "Tem que acabar com isso daí de indústria de multa do Ibama, o empresário brasileiro sofre muito". E que aos gaúchos, valha o triste exemplo _ mineração no Camaquã, não!


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